quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Critica aos esquerdistas ainda existentes no PT

Apesar da saida de grande parte dos esquerdistas, infelizmente ainda existem muitos desses no PT - Partido dos Trabalhadores. É o caso de Gabriel Lourenço e de Danilo Vilela, estudantes universitários que se consideram os "gênios do marxismo revolucionário", motivo pelo qual ainda acreditam em uma ruptura como caminho para o socialismo. E pior, por acharem isso lançam calunias infames contra Tarso Genro e Vinicius Wu, por terem escrito o texto “Esquerda renovada”.

Pois bem, Karl Marx e Friedrich Engels nunca afirmaram que a ruptura deveria ser necessariamente violenta, inclusive Marx afirmou que em países capitalistas democráticos como EUA e Grã Bretanha, os comunistas poderiam chegar ao poder pelo voto. E essa posição é reafirmada pelo historiador marxista Jacob Gorender, em "Marxismo sem utopia", inclusive em estrevista publicada na revista Teoria e Debate nº 43, afirmou: "Podemos conjecturar sobre uma transição democrática e pacífica para o socialismo. Mas se trata de uma perspectiva condicional. Depende de que o adversário respeite as regras do jogo."

Partindo dessa constatação, percebemos que hoje o capitalismo é muito mais democrático do que o capitalismo americano, britânico e holandês dos tempos de Marx. Isso elimina portanto o fetiche esquerdista pela "violência revolucionária", e possibilita que avancemos ainda mais, aceitando a possibilidade de uma transição processual ao socialismo. Essa é a posição formulada por Enrico Berlinguer e pelos chamados "eurocomunistas", que assumiram a defesa da democracia como valor universal em sua plenitude. Isso não significa que os "eurocomunistas" não sejam revolucionários, muito pelo contrário, mas entendem a revolução não como ruptura e sim como processo, desenvolvendo assim um "reformismo revolucionário". Essa é a posição do cientista político Carlos Nelson Coutinho, e do jornalista Milton Temer, por exemplo. Ambos são fundadores do PSOL, portanto nem de longe pode chama-los de direitistas. Isso já derruba a tese esquerdista defendida por esses dois estudantes universitários.

Recordando o que haviam escrito Tarso Genro e Vinicius Wu em “Esquerda renovada”:

“Uma estratégia política socialista, conduzida por um partido de esquerda nos dias de hoje, deve recuperar os valores tradicionais da social-democracia pré-bolchevique e do socialismo democrático europeu e latino-americano¹ – república, igualdade e afirmação de direitos – atualizá-los e vinculá-los aos interesses concretos e às demandas políticas dos grupos e classes sociais, para as quais o crescimento econômico e a distribuição [de] renda são uma necessidade ou uma exigência.”

Os dois estudantes universitários baseados nesse trecho, acusaram Tarso Genro e Vinicius Wu de trairem os principios socialistas do petismo, afirmando:

"Ganhamos um presente; mas precisamos retirar o laço e o papel de embrulho. O que é exatamente a “social-democracia pré-bolchevique”? Em que contexto mais amplo estão inseridos os valores citados? Tomando-se como referência o período entre a morte de Friedrich Engels (1820-1895) e a Revolução Russa (1917), encontramos Eduard Bernstein (1850-1932) como um dos grandes expoentes dessa corrente não-revolucionária. Estabelecido esse marco, podemos recorrer ao seu pensamento para entender o que Tarso Genro e Vinicius Wu estão propondo." (A esquerda reafirmada)

Oras, em momento algum Tarso Genro e Vinicius Wu estão defendendo as posições revisionistas bernsteinianas, até porque a social-democracia pré-bolchevique recusou aceita-las, inclusive o próprio Karl Kautsky as recusou, declarando:

"Quando Bernstein diz que devemos ter primeiramente a democracia para conduzir passo a passo o proletariado à vitória, eu digo que para nós a questão é inversa. A vitória da democracia está condicionada pela vitória do proletariado."

O revisionismo de Bernstein foi aceito pela social-democracia alemã somente em 1921, no Congresso de Stuttgart.

E mais, a social-democracia pré-bolchevique também representa Jean Jaurès, que foi assassinado por um jovem nacionalista em 1914, justamente por se opor a Primeira Guerra Mundial e estar tentando organizar uma greve geral na França e na Alemanha para dete-la. Também representa a ala internacionalista dos mencheviques, liderada por Yuri Martov, que se opos a Primeira Guerra Mundial, fez oposição ao governo provisório e mesmo não apoiando a Revolução de Outubro, não participou de nenhuma ação contra-revolucionária, inclusive apoiando o Exército Vermelho em sua luta contra o Exército Branco, mas fazendo oposição ao governo bolchevique por defender os princípios da democracia operária, que garantem a liberdade de expressão para todas as correntes socialistas, e não uma ditadura de partido único como os bolcheviques estabeleceram.

Portanto em “Esquerda renovada”, Tarso Genro e Vinicius Wu não estão defendendo o abandono da luta pelo socialismo, mas afirmando aquilo que somente os esquerdistas não querem enxergar: acabou-se os tempos das rupturas, o mundo não é mais o mesmo dos tempos do Manifesto Comunista. A classe trabalhadora conquistou cidadania, o capitalismo se democratizou, e o caminho para o socialismo é processual. Muito antes dos "eurocomunistas", a social-democracia pré-bolchevique já havia enxergado isso, até porque o próprio Engels, em 1895, na introdução à nova edição de "Luta de Classes na França", reconheceu que os tempos das grandes revoluções tinha chegado ao fim, que era preciso rever aquilo que ele e Marx haviam escrito no Manifesto Comunista, em dezembro de 1847.

Mas as calunias desses esquerdistas não param nessa absurda tentativa de identificar Genro e Wu com o revisionismo de Bernstein. Eles escrevem: "reparem no trecho primeiramente citado; fala-se de “interesses concretos (...) dos grupos e classes sociais, para as quais o crescimento econômico e a distribuição [de] renda são uma necessidade ou uma exigência”.

A ausência de qualquer referência específica à classe trabalhadora, ou ainda às classes trabalhadoras, não pode, de maneira alguma, ser considerada por acaso. Essa omissão significa declarar uma opção política, ainda que processada inconscientemente. Afinal, é óbvio que crescimento econômico não é necessidade ou exigência apenas da classe trabalhadora; os capitalistas auferem muito mais lucros em momentos de crescimento, e um melhor nível de distribuição de renda aumenta a quantidade de pessoas com poder de consumo, sendo este necessário à própria realização cíclica de capital.(A esquerda reafirmada)"


Oras, se Tarso Genro e Vinicius Wu estão escrevendo um texto para discussão interna no PT, é obvio que ao falar em grupos e classes sociais estão falando nas classes trabalhadoras e seus aliados, o que inclui a pequena-burguesia e o campesinato. E como não estamos ainda em uma fase adiantada do processo de construção do socialismo, eles estão se referindo também a burguesia progressista que se opõe ao neo-liberalismo. Mas esses esquerdistas não querem isso, querem um texto ao estilo daquele escrito pelos psolistas, que fala em classes trabalhadoras e na construção do socialismo, como se estivessemos em uma conjuntura propicia a isso, e pior, como se ainda estivessemos no século XIX ou na Rússia semi-feudal de 1917, onde ainda era legitimo falar em rupturas. Esses dois estudantes esquerdistas deveriam perceber que a visão que defendem, não é mais a visão do socialismo no século XXI, portanto como não existe maquina do tempo, deveriam migrar para o PSTU, PCB, ou até mesmo para o PSOL, pois lá sim o tempo parou e esse discurso esquerdista ainda faz algum sentido.

Um comentário:

  1. Os esquerdistas sectários são necessários. Eles diamizam o debate.Combatê-los é muito educativo. Mandar esses dois estudantes igrarem para outras siglas...Mas que autoritário é você! A força do PT sempre esteve nas suas brigas internas. Por que não dialogar com eles, em vez de demonizá-los? O problema deles é que são imaturos, não que sejam maus. Forante isso, seu artigo é muito bom. Abraço

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