quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A BARBÁRIE MAOISTA



Após o general Chiang Kai-chek romper a aliança do Kuomitang com os comunistas, promovendo em seguida um massacre contra militantes do Partido Comunista Chinês(PCCh) em Xangai, no ano de 1927, o revolucionário marxista-leninista Mao Tsé-tung reinterpretou o comunismo para a realidade chinesa, concluindo que o campesinato era uma classe revolucionária, cabendo aos comunistas organiza-los em um exército revolucionário, que através do campo cercaria as cidades e assim conquistaria o poder. Segundo Mao, "o poder político nasce do fuzil". Era a teoria da "Guerra Popular Prolongada", que Mao Tsé-tung colocou em prática ao promover um levante na região fronteiriça das províncias do Hunan e Jiangxi, a "Revolta da Colheita de Outono", que mesmo fracassando, serviu de embrião do Exército Vermelho, e foi o início da guerra civil que durou 22 anos(apesar de ter acontecido um cessar-fogo nessa guerra entre os comunistas e as tropas do Kuomitang entre 1937 e 1945, quando ambos os exércitos tiveram que combater os invasores japoneses. Mas derrotado os invasores, a guerra civil recomeçou).

Após essa guerra civil que durou 22 anos, na qual o Exército Vermelho(rebatizado como Exército de Libertação Popular em 1946) derrotou o Exército do Kuomitang, os comunistas liderados por Mao Tsé-tung estabeleceram em 1º de outubro de 1949, a República Popular da China. Logo que assumiu o poder, Mao Tsé-tung e o Partido Comunista Chinês estabeleceram tribunais revolucionários, onde após julgamento relampago, foram condenados e executados cerca de 1 milhão de chineses, supostamente por terem cometido "crimes contra o povo" durante o regime autoritario do Kuomitang. Esses julgamentos contra supostos "inimigos do povo", ou seja, contra quem havia tido algum tipo de relação com o Kuomitang, durou até 1953, e foram executados cerca de 2 a 3 milhões de chineses.

Mesmo a China sendo um país atrasado, com estruturas semi-feudais, os comunistas implantaram o mesmo tipo de regime autoritario e o mesmo modelo economico que existia na URSS, e assim estatizaram toda a propriedade dos meios de produção, distribuição e troca, eliminando o mercado e promovendo os planos quinquenais ao estilo stalinista, o que fez surgir uma burocracia que logo se tornou uma nova classe dominante. Então em 1956, Mao Tsé-tung declarou: "deixem que floresçam cem flores". O objetivo era incentivar criticas contra o partido comunista e o governo, no intuito de corrigir erros que podessem estar sendo cometidos.

De início os intelectuais se mostraram céticos, apesar de todas as garantias de Mao para a liberdade de expressão, e surgiram pouquíssimas críticas ao sistema. Somente após alguns meses as críticas se avolumaram, e concentravam-se especialmente na baixa qualidade de vida da população, na corrupção, no banimento à literatura estrangeira, nas relações contra as mulheres, e na falta de diversas liberdades.

Com o tempo, porém, as críticas se tornam pesadas demais e foram identificadas pelo Partido como vindas de "direitistas burgueses", e decidiu-se por encerrar o "Desabrochar de Cem Flores". Infelizmente, quem caiu na besteira de se expor, acreditando na história das cem flores, acabou vítima da perseguição política do governo comunista, que resultou na prisão de milhões de pessoas em campos de trabalho forçado, para serem reeducadas e assim tornarem-se "novos" homens e mulheres socialistas. Não preciso dizer que milhares morreram nesses campos de trabalho forçado(a versão comunista dos campos de concentração).

"Nessa época, a intimidação política, através de campanhas resumidas em slogans canônicos, torna-se um método estabelecido de dominação e controle político e social."(Bernardo Kucinski; em "Memórias Selvagens")

Então em 1958, Mao Tsé-tung decidiu lançar um programa radical de coletivização no campo, acompanhado de uma rapida industrialização. Era o chamado "Grande Salto a Frente". Esse programa fracassou e resultou na morte de cerca de 30 milhões de camponeses, vitimados pela fome.

"Eu ainda me lembro da história das mini-usinas de aço chinesas, que nos eram apresentadas no Brasil como a mais humana e inventiva forma de industrializar um país como a China. Em Cisnes Selvagens esse episódio marca o primeiro grande fracasso da Revolução, pois, milhões de camponeses foram levados a abandonar suas lavouras, para catar lenha e produzir aço em mini-usinas. O plantio da safra de 1958 foi totalmente abandonado e seguiu-se a fome generalizada. As estimativas são de que 30 milhões de camponeses podem ter morrido, desnecessariamente, como resultado do "Grande Salto Para Frente" do Presidente Mao."(Bernardo Kucinski; em "Memórias Selvagens")

Com o fracasso desse programa, o poder de Mao sobre o governo e o partido ficou ameaçado, então o canalha decidiu lançar uma campanha de perseguição contra supostos "contra-revolucionários burgueses" infiltrados no partido comunista e na sociedade. Era a "Revolução Cultural", uma verdadeira barbárie que transformou a China em um verdadeiro inferno.

"A Revolução Cultural é entendida como uma maquinação de Mao, para restabelecer um poder abalado pelo fracasso do "Grande Salto para Frente" e outros fracassos, e como uma operacionalização do profundo culto de personalidade, de caráter religioso, à figura de Mao.

Foi uma campanha ao mesmo tempo de jovens contra adultos, de arrivistas contra veteranos, de oportunistas contra ingênuos. Todos os maus espíritos escondidos no interior das pessoas, adormecidos na fase da luta contra o Kuomitng, despertaram e correram soltos durante a Revolução Cultural."(Bernardo Kucinski; em "Memórias Selvagens")


Intelectuais, religiosos e membros do partido comunista, foram presos, humilhados em público, torturados e muitos assassinados, pelos chamados guardas vermelhos, jovens fanatizados que cultuavam Mao como se fosse um deus e agiam como verdadeiros animais selvagens. Depois os próprios guardas vermelhos passaram a lutar entre si, para mostrar quem era mais leal a Mao. Foi preciso a intervenção do exército para evitar que a China se tornasse um caos completo.

"Como pudemos nos deixar enganar tanto, e durante tanto tempo? Como podemos admirar tão profundamente a Revolução Cultural chinesa, que humilhava velhos professores de barbas brancas, e levava ao suicídio militantes dedicados do Partido Comunista, que transformava jovens educados em imbecis raivosos e petulantes, que encobria através de uma onda de terror sofisticado, a incompetência e a senilidade de Mao Tsé Tung?" (Bernardo Kucinski; em "Memórias Selvagens")

Mais de 1 milhão de chineses morreram devido a essa barbárie. E outros milhões foram presos e torturados. Se não bastasse isso, Mao Tse Tung se aproximou dos EUA nos anos 70, em virtude do conflito que vinha mantendo com a URSS desde o XX Congresso do Partido Comunista da URSS, uma vez que Mao se opunha a desestalinização promovida por Kruschev.

"Nos anos 70, a China se aproximou dos EUA. O presidente Nixon foi recebido com pompa por Mao e o governo chinês se alinhou sistematicamente ao imperialismo norte-americano, sob a justificativa de que a URSS representaria uma ameaça maior aos interesses do país. Isso fez com que a China chegasse ao absurdo de apoiar o ditador chileno Augusto Pinochet, uma vez que o governo de frente popular de Salvador Allende possuía boas relações com a URSS." (Rodrigo Ricupero; em "Os 40 anos da Revolução Cultural Chinesa")

Mao se aproximou dos EUA, pois considerava a URSS como verdadeira inimiga da China, inclusive ocorreu um conflito armado entre soldados chineses e soviéticos na fronteira comum entre esses dois países socialistas, em 1969, resultando na morte de 60 soldados soviéticos e de 800 soldados chineses. Por esse motivo a República Popular da China foi admitida na ONU. Os chineses então passaram a se aliar ao imperialismo yankee, inclusive apoiaram a direitista UNITA, em Angola, que também era apoiada pelo regime racista do Apartheid da África do Sul, e pelos EUA, ao invés de apoiar o MPLA, que era comunista e tinha o apoio da URSS e de Cuba.

Mao também promoveu uma política imperialista. Em 1950, a China invadiu e anexou o Tibet, que era um Estado independente desde 1912, e em 1959, reprimiu brutalmente um levante nacionalista tibetano, matando mais de 20 mil pessoas, o que obrigou o XIV Dalai Lama a se exilar na India.

Em 10 de outubro de 1962, a China invadiu a India, dando início a Guerra sino-indiana. Os chineses conquistaram parte do estado indiano de Arunachal Pradesh, e conquistaram todo o território do estado indiano de Aksai Chin. A guerra terminou em 20 de novembro de 1962, quando foi estabelecido um cessar fogo. Morreram mais de 3 mil soldados indianos e cerca de 1400 soldados chineses.

Mao morreu em 1976, e seus sucessores reconheceram que ele cometeu erros, em especial a "Revolução Cultural", que foi classificada como um desvio esquerdista. Entretanto afirmam que esses erros se limitam apenas a 30% de sua obra.

Essa foi a ditadura maoista, que como podem perceber foi tão sangrenta e desumana quanto o nazismo. Entretanto a esquerda que adora condenar o nazismo(e com toda a razão, pois o nazismo precisa ser condenado por todos), limita-se a reconhecer que Mao Tsé-tung cometeu erros. Claro que com excessão do PCdoB e de "seitas" stalinistas, que assim como os comunistas chineses, limita esses erros a apenas 30% da obra de Mao, e logicamente dos próprios maoistas(que não enxergam erro algum e ainda cultuam a personalidade desse ditador), a maior parte da esquerda reconhece que os erros de Mao não foram poucos e que custaram a perda de vidas humanas. Mas isso é muito pouco, afinal não podemos dizer que a "Revolução Cultural", por exemplo, foi simplesmente um erro. Não, foi um crime hediondo contra o povo e a cultura chinesa. O maoismo precisa ser condenado e combatido, essa é a verdade que a esquerda não quer enxergar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário