quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A BARBÁRIE STALINISTA



"A Revolução Russa foi a primeira grande revolução proletária do mundo. Foi o primeiro acontecimento mundial a mostrar que o capitalismo não é o fim da história, que é possível constituir uma sociedade sem que um grupo humano explore outro, uma sociedade solidária para além de suas fronteiras nacionais. Essa é uma visão de mundo que a Revolução Russa concretizou e, por ter sido tão radical em sua transformação da sociedade capitalista, é natural que polarize opiniões: de um lado, como disse Marx, os que nada tinham a perder e todo um mundo a ganhar; de outro, aqueles que defendiam sua sobrevivência enquanto classe. Inevitável polarização, de idéias e de atitudes.

Para aqueles que se colocam na firme defesa da Revolução Russa, cabe entendê-la, tanto nos seus acertos, que foram imensos, quanto nos seus erros e descaminhos, que foram também imensos e que levaram a que se encerrassem ingloriamente 70 anos de socialismo. (...)

Estar ao lado dos revolucionários russos não quer dizer esquecer os erros que cometeram. É preciso abominar as barbaridades cometidas na época do chamado stalinismo, sem esquecer que a Revolução Russa foi a primeira tentativa de criação de um estado proletário na história da humanidade, e que seu povo pagou alto preço pelo sonho de construir uma sociedade igualitária."

(Marly A. G. Vianna, professora de História da Universidade Federal de São Carlos; em "90 Anos da Revolução Russa")


Josef Stalin era um revolucionário bolchevique e tornou-se secretário-geral do Partido Comunista da Rússia, em 3 de fevereiro de 1922. Em dezembro de 1922, as repúblicas soviéticas foram unidas a Rússia, formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas(URSS), e o partido foi rebatizado como Partido Comunista da URSS.

Stalin era portanto o secretário geral do partido, quando Lenin sofreu o terceiro enfarte que o deixou incapacitado, em março de 1923. Foi formado então um triunvirato, formado por Stalin, Grigory Zinoviev, e Lev Kamenev, que assumiu a direção do governo soviético.

Após a morte de Lenin, ocorrida em 21 de janeiro de 1924, começou uma batalha feroz na burocracia do partido para ver quem iria sucede-lo. Stalin saiu na frente e após derrotar Trotsky(que foi expulso do partido em 1927, e posteriormente expulso do país em 1929), e afastar outros adversários dos principais postos de direção, assumiu o poder absoluto em 1928. Stalin acabou com a Nova Política Economica e lançou o primeiro plano quinquenal nesse mesmo ano de 1928, com o objetivo de priorizar a rapida industrialização e "edificar o socialismo", passando para o Estado o controle de toda a atividade econômica. Toda propriedade dos meios de produção, distribuição e troca foi estatizada, sendo eliminado o mercado. Os sindicatos foram estatizados e o trabalho foi militarizado.

Em 1929-1930 dedica-se à coletivização da agricultura, liquidando camponeses - pequenos, médios ou grandes proprietários de terras. Cerca de 10 milhões são executados ou morrem de fome, e outros são deportados em massa com suas famílias.

" ... Stalin passa a implementar medidas de coletivização forçada da agricultura, apoiadas numa duríssima repressão contra os camponeses. Sabe-se hoje que essa política voluntarista e duramente coercitiva - que o próprio Stalin chamou de "revolução pelo alto" - levou à morte cerca de 10 milhões de camponeses. Por outro lado, a industrialização acelerada promovida pelos famosos planos qüinqüenais, embora tenha tido importantes resultados quantitativos, produziu fome e gerou opressão sobre os trabalhadores urbanos. Conheceu-se assim, na URSS dos anos 30, um período de intensa superexploração da força de trabalho, tanto camponesa quanto operária. Tudo isso levou à construção de um regime de terror na União Soviética." (Carlos Nelson Coutinho; em "Atualidade de Gramsci")

Desconfiando que as reformas econômicas que implantara produziam descontentamento entre a população, Stalin dedicou-se, nos anos 30, a consolidar seu poder pessoal. Tratou de expulsar toda a oposição política. Se alguém lhe parecesse indesejável, ele se encarregava de desacreditá-lo perante a opinião pública. Em 1934, Sergei Kirov, principal líder do Partido Comunista em Leningrado - e tido como possível sucessor de Stalin - foi assassinado por um anônimo, Nikolaev, de forma até agora obscura; muitos consideram até hoje que Stalin não teria sido estranho a este assassinato. Seja como fôr, Stalin utilizou o assassinato como pretexto imediato para uma série de repressões que passaram para a história como o "Grande Expurgo".(veja http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_Expurgo)

Stalin liquidou cerca de dois terços dos quadros do Partido Comunista da URSS, incluindo a "velha guarda" bolchevique, como os revolucionários Nikolai Bukharin, Grigory Zinoviev, e Lev Kamenev(a família de Kamenev também acabou executada, só um de seus filhos sobreviveu aos expurgos do governo Stalin). Leon Trotsky, expulso da URSS em 1929, foi assassinado por um agente stalinista em 1940, no México, onde se encontrava exilado. O filho de Trotsky, Leon Sedov, também foi assassinado por um agente stalinista em Paris.

Stalin também liquidou cerca de 5.000 oficiais do Exército acima da patente de major, 13 de 15 generais de cinco estrelas do Exército Vermelho – criado durante a Revolução Russa por Leon Trotsky, seu dissidente mais conhecido – e inúmeros civis, considerando-os todos "inimigos do povo".

"É provável que a dimensão desse violento expurgo se devesse a um acerto de contas de Stalin com Trotsky, visto que foi o seu rival quem forjou o Exército Vermelho durante a guerra civil de 1918-21. O objetivo final seria a stalinização total da organização militar, que até então ficara fora dos expurgos que abateram o partido e a polícia secreta ao longo dos anos trinta." (Robert Conquest - O Grande Terror, pag. 478-9)

É provável que algumas das vítimas de fato fossem dissidentes de suas reformas econômicas (conhecidas como Planos Qüinqüenais), mas a grande maioria das vítimas não apresentava nenhum indício de oposição ao ditador soviético.

Se não bastassem esses crimes hediondos, Stalin ainda traiu o socialismo quando em 23 de agosto de 1939, firmou um pacto de não agressão com a Alemanha nazista. Nesse pacto haviam cláusulas secretas que estabeleciam o apoio alemão as pretenções imperialistas de Stalin no Báltico e Roménia, assim como o apoio soviético as pretenções imperialistas de Hitler na Polónia.

Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polónia, e dois dias depois teve início a Segunda Guerra Mundial, quando Reino Unido e França declararam guerra a Alemanha nazista, honrando seus compromissos com a nação polonesa. Em 17 de setembro de 1939, a URSS também invadiu a Polónia, jogando uma pá de cal nas esperanças polonesas de resistir aos invasores nazistas, pois enfrentando dois ataques simultaneos não tinha como se defender. Então ao final do mês, os poloneses se renderam. Alemães e soviéticos partilharam o território da Polónia, com a URSS anexando a parte leste, enquanto os alemães ficaram com todo o resto.

Em 30 de novembro de 1939, a URSS invadiu a Finlándia, dando início a uma guerra que duraria até março de 1940. Vencida pelos soviéticos, essa guerra levou a conquista de inúmeras áreas do território finlândes pela URSS, principalmente a rica região da Carélia. Em junho de 1940, a URSS anexou a Lituânia, a Letônia, e a Estônia, que eram países independentes desde 1918. E também anexou a Moldávia, que pertencia a Roménia.

Os soviéticos só entraram em guerra contra a Alemanha nazista depois que Hitler violou o pacto de 1939, ao invadir a URSS em 22 de junho de 1941.

Stalin morreu em março de 1953, e seu sucessor no cargo de secretário geral do Partido Comunista da URSS, Nikita Kruschev, denunciou no XX Congresso do partido, realizado em fevereiro de 1956, o "culto da personalidade" stalinista e os crimes promovidos por Stalin. Tinha início a desestalinização, que não democratizou a URSS, mas ao menos deu fim ao terror monstruoso e desumano da era stalinista.

Após a desestalinização promovida por Nikita Kruschev, o principal defensor do stalinismo foi o ditador da Albânia, Enver Hoxha, que liderou em seu país a resistência contra os invasores italianos e alemães na Segunda Guerra Mundial, e após a derrota dos invasores, estabeleceu uma ditadura stalinista na Albânia. Hoxha rompeu com a Iuguslávia de Tito em 1948, devido a oposição de Tito ao stalinismo. Com a desestalinização promovida por Kruschev, Enver Hoxha rompeu com a URSS em 1956, se aliando a China de Mao Tsé-tung. Quando Deng Xiaoping promoveu as reformas no final dos anos 70, Hoxha rompeu com a China e isolou a Albânia do resto do mundo.

A ditadura albanesa era bizarra, uma vez que proibia o uso de automóveis particulares e a prática pública da religião, além de ter impedido o progresso economico do país ao isolar a Albânia do resto do mundo. Essa foi a ditadura stalinista, na URSS e no Leste Europeu.

"O stalinismo foi a maior tragédia do povo russo e de todo o povo do Leste Europeu, afora as guerras. Não podemos mais ter receio de afirmar isso. Havia um temor de que isso parecesse diminuir o mérito da resistência do povo soviético ao nazismo. Não diminui. Os vestígios de stalinismo, indícios que sejam, são nefastos, atentados a qualquer idéia de vida democrática." (Emiliano José; em "O stalinismo e sua trágica herança")

O PCdoB - Partido Comunista do Brasil, surgiu em 18/02/1962, oriundo de um racha no PCB - Partido Comunista Brasileiro. Os stalinistas romperam com o PCB, pois o "partidão" havia assumido as posições do XX Congresso do Partido Comunista da URSS, ao lançar a histórica "Declaração de Março", em 1958, e confirma-la em seu V Congresso Nacional, realizado no começo dos anos 60. Ao nascer, o PCdoB adotou a linha maoista, motivo pelo qual organizou a Guerrilha do Araguaia, derrotada pela ditadura militar na primeira metade da decada de 70. Depois que a China adotou as reformas de Deng Xiaoping, o PCdoB se aproximou da Albânia de Enver Hoxha, a bizarra ditadura stalinista que proibia o uso de automóveis particulares e até mesmo manifestações públicas de religiosidade. A Albânia era o país mais pobre e atrasado da Europa, quando em 1991, caiu a ditadura stalinista que estava no poder desde 1945. Somente ai que o PCdoB tomou vergonha e decidiu reconhecer que Stalin cometeu erros, mas sem assumir posição anti-stalinista.

"Não somos stalinistas. Tampouco, somos anti-stalinistas. Avaliamos a figura de Stalin no plano histórico. Ele esteve, juntamente com o Partido Bolchevique, à frente das grandes batalhas pela transformação radical do velho mundo capitalista. Nesses embates, a par dos méritos incontestáveis, mostrou falhas e deficiências, cometeu erros que prejudicaram a causa do proletariado." (João Amazonas; Informe Político do 8º Congresso do PCdoB)

Hoje o principal defensor do stalinismo em nosso país é o PPL - Partido Pátria Livre, fundado em 21/04/2009, pelos integrantes do MR8 - Movimento Revolucionário 8 de Outubro, que haviam se desfiliado do PMDB em dezembro de 2008. Esse partido está buscando se legalizar, para disputar as eleições de 2012, e espero que não consiga. Além do PPL, o stalinismo também é defendido em nosso país pelas "seitas" PCR - Partido Comunista Revolucionário, que é uma dissidência do MR8(surgida em março de 1995), PCML - Partido Comunista Marxista Leninista, e pelos "maoistas"(Liga dos Camponeses Pobres, Liga Operária, e MEPR).

Felizmente com excessão do PCdoB, do PPL e das "seitas" stalinistas citadas, a esquerda condena o stalinismo. Entretanto deveria ser mais radical em sua condenação a essa aberração, que descaracterizou por completo o socialismo, tornando-o uma espécie de versão de esquerda do nazi-fascismo.

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