sábado, 6 de fevereiro de 2010

PSTU lança candidatura própria e reafirma que a revolução é iminente

Os trotskistas do PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, lançaram a pré-candidatura de seu presidente nacional, o operário José Maria de Almeida (Zé Maria), para Presidência da República. Como acreditam que a revolução é iminente, nenhuma política de alianças mais amplas é tolerada. Eles se limitam a fazer alianças com PSOL e PCB, fora esses dois partidos, nem pensar em ampliar a aliança sequer para o PCdoB, por exemplo. E como os psolistas haviam cogitado a possibilidade de apoiar a candidatura de Marina Silva(que já desistiram de cogitar, uma vez que os verdes brasileiros estão bem distantes da esquerda socialista), os trotskistas do PSTU decidiram retomar a política de candidatura própria. Como todos os trotskistas, os do PSTU se consideram "revolucionários pra cacete", portanto nada de assumir uma política aliancista quando a revolução socialista "está na próxima esquina", esperando por eles, os "iluminados guias do proletariado" para lidera-la.

"O lider do PSTU, José Maria de Almeida, foi candidato duas vezes a presidente da República. Em 1998, teve 0,30% dos votos. Em 2002, alcançou 0,47%. Zé Maria não se preocupa com essa falta de mais-valia nas urnas: "O importante é a revolução. Ela está chegando, e nós estamos preparados. Haverá uma insurreição do povo. Vamos derrubar o governo e mudar o regime".

Uma revolução no Brasil? "É isso mesmo. Nos últimos anos houve conflagrações no Equador, na Argentina e na Bolívia. Eles só continuam capitalistas porque quando o povo foi para as ruas não havia partidos capazes de guiar a transição para o socialismo. Esse será o nosso papel quando a hora chegar", acrescenta um Zé Maria animadíssimo."(fonte: Veja)


Zé Maria e seus camaradas do PSTU se esquecem que a CONLUTAS, braço sindical do partido, dirige o sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, o ANDES SN(Associação Nacional dos Docentes no Ensino Superior - Sindicato Nacional), assim como participa da direção do SEPE(Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação), aqui no Rio. E qual grande mobilização esses sindicatos realizam??? Qual mobilização de caráter revolucionário a CONLUTAS, ou as entidades estudantis dirigidas pelo PSTU conseguem realizar para acreditarmos que a revolução é mesmo iminente??? Nem mesmo uma greve de professores eles conseguiram organizar, apesar do governo Sérgio Cabral ter parcelado em seis anos o pagamento do nova escola aos professores. Isso demonstra que não existe nenhuma revolução iminente, e mesmo que tivesse uma possiblidade remota de revolução, como poderiam fazer essa revolução se vivem brigando contra outras "seitas" trotskistas(PCO, MNN, LER, etc), e acusando caluniosamente os comunistas do PCB e do PSOL???

Zé Maria também se esquece que na Argentina, além da Frente Operária Socialista, "seita" trotskista filiada a mesma Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional, do qual o PSTU também faz parte, existem diversos partidos e grupos trotskistas, como o Partido dos Trabalhadores ao Socialismo, Partido Operário, Movimento ao Socialismo, Movimento Socialista dos Trabalhadores, etc. Porque eles não lideraram a revolução socialista por lá, se as mobilizações que ocorreram possibiltava que isso ocorresse??? Na Bolívia, existe o Movimento Socialista dos Trabalhadores(filiado a Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional, do qual o PSTU é o principal representante), o Partido Operário Revolucionário, e outras "seitas" trotskistas. Se a revolução é iminente, porque eles ainda não a realizaram por lá???

Qual a influência dos trotskistas na Argentina e na Bolívia??? A resposta é praticamente nenhuma, pois assim como aqui, vivem brigando entre si e promovendo políticas sectarias e esquerdistas que os afastam das massas populares. O mesmo acontece na Europa. Na França, o sectarismo do Partido Operário Independente e da Luta Operária, os jogam no gueto. O mesmo acontece na Itália, onde o sectarismo do Partido Comunista dos Trabalhadores e do Partido da Alternativa Comunista, é ainda maior. Ninguém faz revolução com um sectarismo tão doentio, e com políticas esquerdistas descoladas da realidade.

Os trotskistas não percebem que a realidade das sociedades capitalistas desenvolvidas é bem diferente da realidade da Rússia de 1917. Naquela sociedade semi-feudal, o poder estava concentrado no Palácio de Inverno, portanto bastava ataca-lo para se tomar o poder. Nas sociedades capitalistas desenvolvidas, o poder não está concentrado nos palácios. Encontra-se disperso pela sociedade, pois o capitalismo não se mantem apenas pela coerção, mas também pelo consenso. A esquerda deve disputar a hegemonia na sociedade, antes de pensar em tomar o poder. Ao invés de Trotsky, a esquerda socialista precisa ler Gramsci.

"Gramsci foi um pensador muito além de seu tempo. Seus conceitos são ainda operacionais para a realidade contemporânea. Ele era um pensador bastante sofisticado e deixou indicações preciosas sobre o papel dos aparatos de hegemonia na manutenção da dominação de classe. Eu destacaria o conceito de sociedade civil que, no aspecto institucional, diz respeito ao conjunto das instituições privadas de hegemonia, as quais difundem ou criticam a ideologia dominante: jornais, TVs, rádios, editoras, teatros, cinemas, escolas, igrejas, partidos, sindicatos. Boa parte da esquerda compreendeu que a luta pelo socialismo passa primordialmente por estes meios, e não por um simples assalto militar ao poder." (Lincoln Secco; em "O conceito de sociedade civil como uma das maiores contribuições de Gramsci")

A política dos trotskistas só pode resultar em derrota, não somente pelo seu sectarismo doentio, mas por acreditar que ainda vivemos como se estivessemos na Rússia de 1917. Não perceberam a importância de disputar a hegemonia na sociedade, de se travar uma "guerra de posição" pelo fato da revolução "arder em fogo lento" nas sociedades capitalistas desenvolvidas.

"[...] no Ocidente, onde a 'sociedade civil' é extremamente articulada com a proteção do 'Estado político', a luta será longa, será uma enervante 'guerra de posição' [...]. É preciso aprender todos os métodos mais elaborados dos adversários, não deixar-se surpreender despreparados ou atrasados nessa revolução que arde em 'fogo lento', abandonar o primitivismo econômico e mecanicista precedente e desenvolver a capacidade de previsão e de guia dos acontecimentos, chamando os intelectuais para colaborar com tal empreendimento histórico e colmatando continuamente as distâncias que se formam entre as linhas estratégicas dos vértices e a capacidade de compreensão e de recepção da base." (Antonio Gramsci)

Trotskismo e stalinismo, dois lados da mesma moeda

Apesar de serem anti-stalinistas, os trotskistas defendem o mesmo tipo de socialismo autoritario e burocratico, até porque Leon Trotsky defendia as mesmas políticas que Stalin acabou realizando em 1928, após expulsar Trotsky do partido.

"A discussão em torno do papel do Estado, sua relação com os sindicatos, a autonomia da classe operária, nada disso fora palavrório oco. Lênin, com a NEP, propunha agora um outro caminho, com maior liberdade para a cidade e o campo, recuperando o papel do mercado, compreendendo que o capitalismo ainda tinha fôlego para se desenvolver numa sociedade que ele acreditava estar caminhando para o socialismo. Trotsky tinha outra visão, que mais tarde, ironicamente, será integralmente adotada por seu mais visceral inimigo, Stalin. Está certo Deutscher quando afirma não haver praticamente nenhum aspecto do programa sugerido por Trotsky em 1920-21 que Stalin não tenha usado durante a industrialização acelerada da década de 1930. Adotou o recrutamento forçado, subordinou os sindicatos, estimulou a disputa de produção entre os trabalhadores, na linha do taylorismo soviético defendido por Trotsky." (Emiliano José; em "Trotsky: do pomar para a Revolução")

A diferença entre eles era porque Stalin defendia o socialismo em um só país, enquanto Trotsky defendia que a revolução fosse exportada. Fora isso, a diferença entre ambos era mínima. E devo reconhecer que Stalin estava certo, uma vez que a URSS não tinha condições de exportar a revolução, pois encontrava-se arrasada e o movimento comunista internacional não tinha forças para bancar uma revolução, tanto que a única revolução vitoriosa ocorreu na Hungria, em 1919, mas o governo comunista durou apenas cinco meses, depois foi esmagado por forças contra-revolucionárias.

Se não bastasse tudo isso, os trotskistas defendem o modelo autoritario desenvolvido por Lenin, que defende a ditadura do partido do proletariado, e não a ditadura do proletariado. Portanto mesmo que corrigissem o que havia de mais autoritario no pensamento de Trotsky, ainda não seria o suficiente para que defendessem um socialismo com liberdade e democracia.

Dentro do marxismo clássico - e também em Lenin -, a classe operária é portadora do universal, porque quando se emancipa, está emancipando o conjunto da sociedade. O problema é que Lenin não acredita na capacidade da classe operária para exercer o poder na fase inicial de construção do socialismo. Os trabalhadores, segundo Lenin, "não se desembaraçarão facilmente de seus preconceitos pequeno-burgueses", precisando ser "reeducados sobre a base da ditadura do proletariado". Este poder deveria ser exercido pela vanguarda da classe - já livre da ideologia burguesa -, isto é, pelo partido desta classe. Assim, a fórmula leninista da ditadura do proletariado acaba resultando na ditadura do partido do proletariado, pois os interesses históricos de partido e classe são os mesmos, com a diferença de que o conjunto da classe ainda não descobriu sua "missão histórica", a ser revelada pelo partido.

Neste ponto, é importante frisar, não houve um desvio do stalinismo em relação ao leninismo, mas sim sua continuidade, com todos os agravantes da personalidade autoritária de Stalin. O regime bolchevique preparou o terreno para o verdadeiro totalitarismo dos grandes campos de trabalho forçado e do genocidio da era stalinista. Citando o filósofo marxista Ruy Fausto: "Não que eu suponha uma simples continuidade entre bolchevismo e stalinismo. Mas afirmo sim que o totalitarismo stalinista é impensável sem o bolchevismo, e que há linhas reais de continuidade entre os dois". (Ruy Fausto; em Em Torno da Pré-História Intelectual do Totalitarismo)

Portanto não basta ser anti-stalinista, é preciso se opor ao modelo leninista. A esquerda precisa romper com o leninismo, resgatando o melhor do pensamento marxista e de outras tradições socialistas, na luta por um socialismo renovado, um socialismo com liberdade e democracia.

Um comentário:

  1. Estude direito o tema antes de fazer um artigo sobre ele.

    O PSTU não acha que a revolução é iminente. Os motivos do arco de alianças não têm absolutamente nada a ver com a proximidade ou não de um processo revolucionário, mas com independência política de classe. E a unidade ou não com partidos da esquerda socialista também não tem nada a ver com esse critério de "proximidade da revolução" completamente fabricado pelo autor desse artigo.

    A entrevista da Veja é uma piada, completamente manipulada e que passa distante do que é o PSTU.

    O PSTU segue a linha morenista, tradição ligada aos trotskistas argentinos e estadunidenses.

    Absolutamente nada da orientação teórica e da política prática do PSTU está fundamentada em absolutamente nada do que você disse no seu artigo.

    Estude e tenha honestidade intelectual.

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