sábado, 6 de fevereiro de 2010

Os esquerdistas do PSOL terão candidatura própria

Fundado em junho de 2004, o PSOL - Partido Socialismo e Liberdade, nasceu de uma dissidência do PT - Partido dos Trabalhadores, apesar de também contar com dissidentes do PSTU. Buscando ocupar o espaço deixado vago pelos petistas na chamada "esquerda radical", os psolistas recusaram seguir o exemplo do PSTU, que se organiza segundo o autoritário modelo bolchevique("centralismo democrático"), pois reconhecem que o modelo bolchevique servia para a realidade da Rússia semi-feudal de 1917, mas não para a realidade brasileira do século XXI. O PSOL não se organiza segundo o modelo centralizador do bolchevismo, garantindo o pleno direito de tendências permanentes se organizarem, inclusive alguns psolistas chegam a reconhecer que o modelo bolchevique era equivocado, mas a critica ao bolchevismo para por ai. O PSOL não se organiza segundo o modelo bolchevique, mas não nega esse modelo, inclusive é grande o número de correntes trotskistas no partido, e todas se declaram herdeiras desse modelo autoritário, responsável direto pelo surgimento do stalinismo.

Claro que por permitir o direito de tendências, o PSOL é bem mais democrático do que o PSTU, PCB, e PCdoB, partidos de caráter bolchevique, que usam e abusam do "centralismo democrático"(o famoso se você pensa que pensa, pensa mal, pois quem pensa por você é o comitê Central). Essa democracia existente no PSOL, permite que trotskistas, luxemburguistas, castristas, eurocomunistas e católicos de esquerda(Teologia da Libertação), convivam em um mesmo partido. Entretanto essa convivencia não é amigável, pois os setores esquerdistas, em especial os trotskistas, consideram os defensores da pré-candidatura de Martiniano Cavalcante Neto, muito "moderados" pelo fato de terem promovido um diálogo com a senadora Marina Silva(PV/AC), visando uma possível aliança. Pois bem, desde quando dialogar com forças progressistas é crime??? Será possível que ser socialista ou comunista é sinonimo de sectarismo e de burrice??? Eles dialogaram e perceberam que os verdes não estão interessados em um programa ecossocialista, por isso encerraram esse diálogo e agora lançam uma pré-candidatura que em hipótese alguma podemos enxergar algum sinal de "moderação".

O próprio Martiniano Cavalcante Neto, em seu manifesto de lançamento da pré-candidatura, deixa claro que seu projeto nada tem de moderado, muito menos que seja "traição" a causa socialista dialogar com outras forças políticas do campo progressista.

"Todos os que possuímos um coração socialista e revolucionário vivenciamos tempos de incerteza e de decisão. O futuro da humanidade está sendo escolhido. A responsabilidade da classe trabalhadora é gigantesca. Os socialistas devem estar à altura dos novos desafios que se apresentam.

Acontecimentos históricos de grande importância exigem respostas das mudanças ocorridas no mundo. Destaco o colapso da União Soviética e do leste europeu. A contínua e crescente revolução científica com seu “tsunami” nas relações de trabalho. A influência dos novos meios de comunicação de massas no modo de vida dos indivíduos. As fortes demandas criadas na sociedade atual pela diversidade social, racial, sexual e cultural. E, principalmente, a patente insustentabilidade do modo de produção e de consumo capitalistas.

Tudo isso se fundiu num verdadeiro impasse diante da civilização humana e cobra dos socialistas um projeto renovado que aponte de maneira consistente a superação das agudas contradições que ameaçam conduzir a humanidade para a barbárie. (...)

Inegavelmente o PSOL é uma construção incompleta e cheia de debilidades. Mas, em contrapartida, é portador de características fundamentais para a construção um partido revolucionário com influência de massas e com determinação para disputar o poder político.

Este perfil reflete uma acumulação, prática e teórica, realizada pelo trabalho das forças mais conseqüentes que participaram da fundação do partido, fortalecidas por concepções afins que entraram no PSOL em 2005, após a segunda onda de rupturas com o PT.

O nome do partido e sua conjugação de socialismo e liberdade expressam uma opção consciente que nega os regimes ditatoriais. Nosso funcionamento orgânico, subordinado à pluralidade de concepções, também revela um irredutível compromisso com a democracia na construção do socialismo. Desde o seu ato inaugural, o PSOL se pautou pela atuação política voltada, prioritariamente, pelo diálogo amplo com as massas. Procurou debater seus problemas concretos e se esforçou para apresentar um projeto organizador de soluções reais e verdadeiras para eles. Ao mesmo tempo manteve sempre presente a necessidade histórica da transformação social e rejeitou as tentações propagandistas, auto-proclamatórias e sectárias.

Deste viés político brotaram nossos melhores frutos. A força social adquirida pela companheira Heloisa Helena, a respeitabilidade pública adquirida pelos nossos parlamentares e a consolidação crescente de nossas lideranças populares em construção.

Foram estas concepções que orientaram a correta procura de dialogo com a Senadora Marina Silva. Não escolhemos o caminho simplista e cômodo de menosprezar aquela ruptura incompleta com o PT, rotulando-a de ecocapitalista e nos autoproclamando ecossocialistas. Procuramos dialogar com o movimento desencadeado por ela, com sua simbologia de política limpa vinculada à importantíssima questão ambiental e com a base social que ela representa. Propusemos que ela se juntasse a nós para combater, com coligação de esquerda, a polarização PT x PSDB. Esta atuação do PSOL demonstrou a todo o país, com fatos e não com discursos professorais, que ela e o seu PV preferiram se aproximar dos Tucanos e dos Demos, deixando-nos em posição privilegiada para combatê-la." (trechos do Manifesto da pré-candidatura de Martiniano Cavalcante Neto)


Mas dialogar racionalmente com quem pensa que ainda estamos no começo do século XX é dificil... Os que acusam a pré-candidatura de Martiniano de "moderada" pararam no tempo, são extremamente dogmaticos e sectarios, eu inclusive fico surpreso ao perceber que nenhum psolista adepto do esquerdismo tenha defendido apoio a pré-candidatura esquerdista e sectaria lançada pelo PSTU.

Os psolistas possuem uma enorme incapacidade de analisar a conjuntura, o que leva o partido a defender um projeto socialista mesmo não havendo a menor possibilidade, na conjuntura atual, da esquerda conseguir disputar a hegemonia usando um discurso de caráter socialista contra as forças políticas de centro e de direita. E por isso os psolistas se isolaram, elegendo apenas 25 vereadores nas últimas eleições. E mais, como insistem em não fazer uma critica mais profunda a Lenin e ao bolchevismo, limitando-se a criticar o stalinismo(como se esse não fosse oriundo dos graves erros existentes na pratica e teoria bolchevque), acaba ficando prisioneiro de uma concepção não democrática de socialismo, que a história já condenou. Por isso os psolistas apoiam o governo cada vez mais autoritário de Hugo Chavez, na Venezuela. E pior, mesmo de forma critica, apoiam a ditadura castrista em Cuba. Os psolistas não buscam refundar o projeto socialista, repetindo os mesmos dogmas que a história já mostrou ser um grave equivoco, até porque o "socialismo real" não fracassou apenas devido a ausencia de democracia, mas também fracassou devido a completa burocratização da economia, que era completamente estatizada. E os psolistas continuam promovendo esse fracassado fetichismo estatista, tanto que defenderam a reestatização da EMBRAER, e defendem a estatização do sistema financeiro, o restabelecimento do monopólio estatal do petróleo, e a revisão de muitas das privatizações realizadas na era FHC.

Lógico que não estou afirmando que a esquerda socialista deve renunciar a seu projeto de coletivização da propriedade, mas isso não pode ocorrer em curto espaço de tempo. Como disse o dirigente comunista italiano Fausto Bertinotti, ex-secretário geral da Refundação Comunista: "Certo: a propriedade privada não pode ser abolida por decreto. Mas é um objetivo" ("Voglio la fine della proprietà privata". Corriere della Sera, 03-03-2005).

Se não bastasse isso, o PSOL apoia de "forma critica" os narcoterroristas das FARC-EP, na Colômbia, além de defender acriticamente os movimentos terroristas palestinos, chegando inclusive a defender a destruição do Estado de Israel, além de comparar Israel com a Alemanha nazista.

O dirigente do PSOL e ex-deputado federal Milton Temer, apesar de criticar o finado "socialismo real", escreveu um texto onde além de caluniar Lula e a esquerda que apoia o seu governo, também afirma que o "socialismo real" servia de contraponto a hegemonia do imperialismo yankee.

"... há um clima crescente de intensa reflexão na esquerda revolucionária brasileira. Está em pauta a busca das mais eficazes alternativas ao imbróglio em que se viu mergulhada a partir da extinção do chamado "socialismo real" no leste Europeu. Aquilo que lá existia atendias às exigências, como modelo, de muito poucos. Mas constituía, para os minimamente informados sobre a realidade da distribuição de forças entre as potências mundiais, um contraponto importante à permanente ameça belicosa do imperialismo ocidental. E, bem ou mal, estabelecia pontos de referência marcantes em nosso debate interno." (Milton Temer; "Desconstruir o falso para construir o novo)

Oras, aonde que a existência do "socialismo real" constituia um contraponto ao imperialismo yankee??? A existência daquela porcaria não impediu os EUA de intervir no Sudeste Asiático(Guerra do Vietnã, que nao se limitou ao Vietnã, pois acabou envolvendo o Laos e o Camboja). Também não impediu os EUA de invadir a República Dominicana em 1965, de patrocinar o golpe contra Jacobo Arbenz na Guatemala, e contra Salvador Allende no Chile, de invadir Granada em 1983, de bombardear a Libia em 1986, etc. E pior, a ex-URSS era tão imperialista quanto os EUA, tanto que invadiu a Hungria em 1956, invadiu a Checoslováquia em 1968, invadiu o Afeganistão em 1979, e patrocinou o golpe na Polónia em 1981. E pior, os soviéticos chegaram a colaborar com os nazistas no começo da Segunda Guerra Mundial, quando partilharam com eles a Polónia.

A referência que o "socialismo real" servia e continua servindo, é justamente daquilo que nós socialistas não podemos fazer. Esse texto de Milton Temer demonstra a incapacidade dos psolistas analisarem a realidade.

Apesar de possuir pessoas esclarecidas em seus quadros, como os intelectuais marxistas Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder, além de bons parlamentares como Chico Alencar e Marcelo Freixo, o PSOL mais parece um PSTU com tendências e com mais lucidez. Eles possuem três pré-candidatos à Presidência da República: o ex-deputado Babá, da CST. Plinio de Arruda Sampaio, figura histórica da esquerda socialista e cuja pré-candidatura tem o apoio da maioria das correntes trotskistas, assim como dos luxemburguistas, dos eurocomunistas(Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder, Milton Temer, etc) e do pessoal mais radical da Teologia da Libertação. E o sindicalista Martiniano Cavalcante Neto, cuja pré-candidatura tem o apoio de Heloisa Helena e da deputada Luciana Genro.

Com toda certeza afirmo que o PSOL não é o meu partido. Mas pelo menos representa uma extrema-esquerda com mais lucidez e com um certo perfil democrático, o que representa muita coisa.

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